Arte Sacra

SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE A SACROSANCTUM CONCILIUM

MEMÓRIA DA ORGANIZAÇÃO DO SETOR DE ARTE SACRA

Para fazer memória do setor de Arte Sacra fiz uma garimpagem nos arquivos da CNBB. Costurando tudo o que encontrei, talvez consigamos ter um panorama mais ou menos completo.

No 1º Encontro de Liturgia promovido pela Comissão Episcopal de Liturgia da CNBB, de 18 a 23 de junho de 1964, fala-se da criação do Instituto Superior de Pastoral Litúrgica, ISPAL.
Nos objetivos propostos pelo ISPAL há um item sobre a Arte Sacra que diz: promover sessões de estudo e outras iniciativas no campo da Arte Sacra e de tudo o que concerne o mobiliário sagrado e as vestes litúrgicas, para difusão dos sãos princípios da Arte Sacra e a formação da sensibilidade artística em contato com a Arte viva.
Portanto, desde cedo, logo após a publicação da SC, houve uma preocupação com este setor e propostas concretas.

Em 1965, na Assembléia Geral da CNBB que aconteceu em Roma, foram aprovadas as Normas Sobre Arte Sacra.
Neste texto conclamam-se artistas, técnicos, clero e povo de Deus para que promovam uma arte Sacra adequada aos verdadeiros objetivos da renovação litúrgica, promovida pelo Concílio Vaticano II. Fala-se da necessidade de adaptação dos templos, de promover experiências em instalações provisórias, e da necessidade de salvaguardar o patrimônio artístico e cultural da Igreja.

Em 1967, de 1 a 5 de dezembro, acontece no Rio de Janeiro o 1º Encontro Nacional de Arte Sacra.
Os participantes não são muitos, mas representam diversos regionais.
Os temas tratados foram:
§         Teologia do Templo;
§         Organização do Espaço Sagrado;
§         Caminhos da Arte Contemporânea;
§         Outras conclusões sobre:
§         Vestes;
§         Santinhos;
§         Monumentos históricos;
§         Encontros Regionais.
Precisamos “construir comunidades” através da evangelização; o espaço é uma decorrência.
A Igreja desclericalizada necessita de outros espaços menores, domésticos, mais condizentes com o estilo e a realidade de cada comunidade.
Construir espaços para a reunião da comunidade, e não monumentos.
Quanto à preservação, fala-se da incúria e do despreparo do clero, e da necessidade de recorrer a órgãos competentes.
Na organização do espaço se orienta para que se busque:
§         Autenticidade;
§         Simplicidade;
§         Funcionalidade;
§         Verdadeira expressividade artística;
§         Integração com o ambiente social e físico.
O programa arquitetônico esteja a serviço:
§         Da comunidade reunida;
§         Da proclamação da palavra;
§         Da celebração da Eucaristia;
§         Da celebração dos Sacramentos.
No que diz respeito ao espaço de culto, destacou-se que haja unidade, comunhão da assembléia reunida, sem que haja separação.
Nas conclusões se pede que se realizem encontros Regionais de Arte Sacra.

Em 1968, de 30 de outubro a 3 de novembro, aconteceu em Brasília o 2º Encontro Nacional. Este Encontro teve um enfoque diferente do primeiro (segue um pouco o Plano de Pastoral de Conjunto 1966-1970, que se centra sobre as CEBs). Basta ver os temas abordados:
1.      Caracterização da sociedade brasileira – tendências e fenômenos sociais atuais;
2.      A comunidade Cristã na sociedade contemporânea;
3.      A Igreja templo e os meios de comunicação social;
4.      Edifícios religiosos e meio urbano.

Os grandes fenômenos enfrentados pela nossa sociedade:
§         Urbanização acelerada;
§         Secularização;
§         Pluralismo religioso.

As conseqüências práticas fazem referência àquelas do 1º encontro:
§         É desejável que se multipliquem as pequenas comunidades – CEBs e se arranjem espaços sem reservá-los exclusivamente para o culto, que estes locais sejam multifuncionais.
§         Que se dê continuidade à reflexão através de simpósios regionais de Arte Sacra.

No final de 1969, lê-se no boletim Notícias o seguinte – Pe. Darci Corazza, que até então estivera  à  frente da coordenação de Arte Sacra, ficou impossibilitado de continuar seu trabalho. Até agora não foi substituído. Por isso, o SNAL continua apenas em contato com os responsáveis regionais e diocesanos, através de traduções de artigos de revistas especializadas”.

Faziam parte do SNAL, na época:
§         Dom Clemente  Isnard – diretor,
§         Côn.  Amaro Cavalcanti de Albuquerque – secretário Nacional,
§         Pe. José Antônio Moraes Busch – coordenador de liturgia,
§         Pe. Maucyr Gibin – diretor do departamento de liturgia,
§         Pe. José Weber – música sacra,
§         Pe. Darcy Corazza – arte sacra,
§         Maria Luiza Jardim Amarante – secretária do SNAL
§         Wilma Bleggi Peixoto, Yonete Vasconcelos e Luis Cavalcanti – auxiliares.

Vale a pena lembrar que em 1969 foi publicado o livro “A Construção de Igrejas” de Peter F. Anson, pela editora Renes – do Rio de Janeiro.
Uma publicação coordenada pelo Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Esse era o 10º volume da Nova Enciclopédia Católica. Foi e continua sendo um bom instrumento, uma vez que possui um capítulo sobre “A moderna Construção de Igrejas” e traz várias pranchas complementares e fotos de edifícios modernos.
Em 11 de abril de 1971 a Sagrada Congregação para o Clero enviou uma circular para os presidentes das Conferências Episcopais sobre os cuidados que os Bispos devem ter com o patrimônio histórico e artístico da igreja.
O Conselho Federal de Cultura por sua vez também enviou uma carta à CNBB e promoveu um encontro com os governadores dos estados manifestando profunda preocupação pela freqüência de atentados contra as igrejas e seus bens artísticos, bem como a carência de medidas elementares de precaução contra danos e furtos sofridos pelos edifícios religiosos.
Neste encontro participou pela CNBB o Pe. Bruno Trombetta, como responsável pelo setor.

A CNBB, através da linha 4, preparou um documento base, no qual constam normas básicas a serem seguidas para a defesa do patrimônio histórico-artístico da igreja.
Chama-se: Documento–base sobre a ARTE SACRA.
Quem o redigiu foi uma Comissão Representativa que se reuniu no Rio de Janeiro de 16 a 23 de agosto de 1971. Este documento traz a assinatura do Pe. Bruno Trombetta.
Em 11 de novembro do mesmo ano a Comissão Nacional de Liturgia aprova o documento base, posteriormente assumido pelo plano bienal (1971-1972) como projeto, intitulado “Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico”. A  Comissão Episcopal de Pastoral o aprova na reunião de 30 de novembro.
Trata-se de um projeto para catalogação dos bens culturais, como solicitado pelo documento-base p. 131 a 140. São definidos os papéis de cada órgão. A assessoria geral ficou a cargo da Comissão Nacional de Liturgia, porque não havia a de Arte Sacra. Os  órgãos que ficaram responsáveis pelo levantamento propriamente dito foram as Comissões Diocesanas ou as Comissões Interdiocesanas. Os meios – IPHAN, Conselhos Estaduais de Cultura, Universidades e entidades particulares – ajudariam na catalogação. O documento ensina como deve ser feito o levantamento, o preenchimento das fichas, e indica os órgãos para os quais devem ser remetidas.
O documento-base e a tentativa de implementação receberam muitos elogios do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na pessoa do seu diretor Renato Sobiro e do Secretário Geral do Conselho Federal de Cultura, Graça Aranha.
O que aconteceu nas dioceses com este documento base não sabemos. Se o levantamento tivesse sido feito nos moldes propostos, alguma ficha deveria estar nos arquivos da CNBB, mas não existe nada. Foi uma tentativa frustrada.
O Pe. Bruno Trombetta ainda na qualidade de Assessor participou da reunião técnica em Santa Fé (Novo México) de 26 de Novembro a 1 de dezembro de 1971 sobre Proteção e Inventário de Arte Sacra na América e da II Conferência de Arte Sacra Colonial. A  Linha 4 publicou no comunicado mensal o relatório desse Encontro.
A partir disso há um hiato. Não se fala mais de Arte Sacra e também não existem notícias que façam referência a algum evento ligado ao setor.
Somente em junho de 1989 o Frei Alberto Beckhäuser, na qualidade de Assessor da Linha 4, profere uma palestra na USP sobre Espaço Litúrgico por ocasião do lançamento do Concurso da Igreja Matriz de Cerqueira Cezar. Participou também Mons. Guilherme Schubert, autor do livro “Arte para a Fé”.
Na tentativa de reacender a “chama que ainda fumega”, Dom Geraldo Lyrio Rocha e os Assessores da Dimensão Litúrgica na CNBB propõem em 1996, por ocasião do Congresso Eucarístico Nacional  em Vitória (ES),  um Encontro e  Exposição de Arte Sacra. Este aconteceu na casa de Retiro Martina Toloni em Vila Velha (ES), nos dias 11, 12 e 13 de julho.
O objetivo deste Encontro, era o de colher experiências, partilhá-las, privilegiando as que estivessem na linha da inculturação. Tratava-se de retomar o debate sobre a Arte Litúrgica no sentido de estabelecer critérios para as novas construções e adaptações.
Foram proferidas palestras sobre História e Sentido da Arte na Liturgia, tema abordado por Cláudio Pastro e Critérios para a Organização do Espaço Litúrgico, pela arquiteta Regina Céli Albuquerque Machado.
Enfatizou-se sobretudo a necessidade de criar espaços Teofânicos, que manifestem o MISTÉRIO. Espaços que sejam sinais e símbolos de UNIDADE, da comunidade com o seu Senhor.
Considerar:
§         A formação artística dos que atuam na Arte Sacra;
§         A constituição das Comissões Diocesanas;
§         A pastoral dos Artistas;
§         A profissionalização (arquitetura, pintura, música) – (não basta o amadorismo).

Para organizar o espaço:
§         Conhecer a teologia e a liturgia;
§         Partir da realidade da comunidade (na maioria pobres);
§         A funcionalidade e simplicidade;
§         A construção como experiência de criação, começo, vida nova.

Em 1999 aconteceu o 2º Encontro desta nova etapa – que cronologicamente seria o 4º – de 25 a 27 de junho em São Paulo, na Lareira São José.
Este encontro contou com a presença de uns 40 participantes.
Foram desenvolvidos trabalhos em grupo e apresentados na forma de plenário. As questões propostas eram:
§         Quais os avanços e perspectivas com relação à ARTE SACRA e
§         Quais os estrangulamentos e questionamentos.
Emergiram as seguintes conclusões:
§         É  urgente trabalhar a formação dos profissionais;
§         Falta preparação, os profissionais desconhecem Liturgia e Teologia e o Clero não fornece subsídios suficientes e adequados;
§         É urgente criar as Comissões Diocesanas e uma articulação nacional dos profissionais arquitetos, escultores, pintores, museólogos etc.
§         Os Encontros Nacionais, além de favorecer o intercâmbio de experiências, visem a formação.

De 2 a 5 agosto de 2001 aconteceu o 3º Encontro, em Belo Horizonte, na casa de Retiros Santíssima Trindade.
Atendendo à solicitação do 2º Encontro privilegiou-se a formação. O tema central foi desenvolvido pelo Pe. Domingos Ormonde: Teologia da celebração Cristã, a partir do texto de Claude Duchesneau “O Ato de Celebrar”.
Os trabalhos em grupo colocaram em evidência mais uma vez que a falta de conhecimento da Arte Sacra e da Arte em geral dificulta o relacionamento entre o presbítero e o profissional.
Há também uma proliferação de subjetivismos teológicos e litúrgicos que atrapalham e, o que é pior, fomentam uma prática de “faz e desmancha” como nunca se viu nas nossas comunidades.
A partir do material encontrado pudemos fazer este apanhado da história do setor. Estou assessorando a Arte Sacra desde novembro de 2000.
Além do encontro de Belo Horizonte procuramos privilegiar a formação em todos os níveis. Tentamos introduzir no Ementário da OSIB a disciplina de arte Sacra. Procuramos atender a todos os pedidos que nos vêm das casas de formação como também das Dioceses.
Dentre os grandes Encontros destacaria o CONGRELIT – Congresso de Liturgia do Nordeste,  o Encontro Diocesano de Ilhéus, o de São José do Rio Preto e as aulas no curso de Especialização e Atualização. Não excluímos as comunidades paroquiais e encontros do clero quando nos chamam e o acompanhamento das Comissões Diocesanas onde elas foram implementadas a partir dos Encontros Nacionais.
Queremos, através dos Encontros Nacionais, preparar profissionais para que possam ser referência nos regionais e desencadeando um processo de reflexão e trabalho conjunto.
Temos ainda a bela e agradável notícia: na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção teremos o curso de Arte Sacra. Por sugestão dada no último encontro dos Bispos Responsáveis pela Liturgia nos Regionais da CNBB,  Dom Geraldo fez o pedido à Direção da Faculdade Assunção e  recebeu  resposta positiva.

A análise que faço da caminhada é a seguinte: A fase dos espaços multi-uso dos anos 70, 80 terminou. Eles ainda subsistem em algumas comunidades que estão em processo de formação. Criamos porém uma prática que não conseguimos superar: a Igreja barracão, sem beleza, pouco litúrgica e não inculturada.
 Privilegiamos modelos importados ou fazemos uma miscelânea copiando aqui e acolá. O resultado, além de dispendioso, quase sempre é kitch, de gosto duvidoso.
Temos profissionais capazes.  É  preciso orientá-los com subsídios que, graças a Deus, também não nos faltam. Além do livro “Arte para a Fé” do Mons. Guilherme Schubert, nos últimos anos foram publicados vários livros de Cláudio Pastro e da Arq. Regina Céli Albuquerque Machado pelas editoras Loyola e Paulinas, sem omitir, é claro, as normas e disposições dos documentos da Igreja e da CNBB em particular.

Desafios que ainda persistem:
§         Formação em todos os níveis: profissionais, clero, comunidades, agentes de pastoral.
§         Uma inculturação sadia, que leve em conta a realidade social, regional, com sua arte, seus costumes, clima, materiais.
§         Que os meios de comunicação social divulguem o que é liturgicamente correto, belo, manifestação do mistério vivido e celebrado pelas comunidades. O que se vê na TV se repete nas comunidades. 

Pelo fato de termos sido colonizados na época do barroco, temos dificuldade de acolher o simples, o despojado, que a Renovação Litúrgica nos propõe. Um conhecimento adequado da história da Arte e da Liturgia nos ajudaria muito neste processo.

                                                                                             

Ir. Laide Sonda

Faziam parte do SNAL, na época:§         Dom Clemente  Isnard – diretor,§         Côn.  Amaro Cavalcanti de Albuquerque – secretário Nacional,§         Pe. José Antônio Moraes Busch – coordenador de liturgia,§         Pe. Maucyr Gibin – diretor do departamento de liturgia,§         Pe. José Weber – música sacra,§         Pe. Darcy Corazza – arte sacra,§         Maria Luiza Jardim Amarante – secretária do SNAL§         Wilma Bleggi Peixoto, Yonete Vasconcelos e Luis Cavalcanti – auxiliares.

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