Este domingo, o Evangelho de João relata que Jesus ressuscitado apareceu aos discípulos, reunidos no Cenáculo, na tarde do «primeiro dia depois do sábado» (João 20,19), e que se mostrou a eles novamente no mesmo lugar «oito dias depois» (João 20, 26). Desde o princípio, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, destacado pelo encontro com o Senhor ressuscitado. É o que sublinha também a Constituição do Concílio Vaticano II sobre a liturgia, afirmando: «A Igreja, por uma tradição apostólica, que traz sua origem do próprio dia da Ressurreição de Cristo, celebra o mistério pascal a cada oito dias, no dia que é chamado com razão de “dia do Senhor”, ou domingo» (Sacrosanctum Concilium, 106).
Recorda também o evangelista que em ambas aparições o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também em seu corpo glorioso (cf. João 20, 20. 27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e nas costas, são fonte inesgotável de fé, de esperança e de amor, na qual cada um pode beber, especialmente as almas mais sedentas da divina misericórdia. Em consideração disso, o servo de Deus João Paulo II, avaliando a experiência espiritual de uma humilde religiosa, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa estivesse dedicado de uma forma especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília de tal dia (nas mãos da divina misericórdia). O mistério do amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado de meu venerado predecessor. Recordemos, em particular, a Encíclica Dives in misericordia, de 1980, e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia, em 2002. As palavras que ele pronunciou nessa última ocasião foram como uma síntese de seu magistério, evidenciando que o culto à misericórdia divina não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão.
Que Maria Santíssima, Mãe da Igreja, a quem agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha para todos os cristãos viver em plenitude o Domingo como «Páscoa da semana», saboreando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e bebendo na fonte de seu amor misericordioso, para ser apóstolos da paz.