Em uma entrevista concedida à Zenit, o frade alemão fala do «segredo de seu êxito» — 84% dos jovens consegue vencer a dependência — e de suas expectativas ante a visita do pontífice.
–Frei Hans, o que caracteriza sua «Fazenda da Esperança»? Qual é o «segredo de seu êxito» no que se refere à dependência das drogas?
–Frei Hans Stapel: Creio que o segredo está em que sobretudo somos muito simples e não fazemos nada complicado: vivemos segundo o Evangelho, trabalhamos e vivemos como em uma família. Em cada casa vivem de doze a catorze jovens, de maneira que é possível dialogar, assumir responsabilidades em comum e — isso é importante — fundar a própria vida cotidiana na Palavra.
A Palavra do Evangelho não é outra coisa senão uma escola de amor, onde se aprende a ser para o outro e a não pensar em si mesmos. E quando se consegue libertar-se de si mesmos, ali foi realmente resolvido o problema.
O que leva às drogas deriva de muitíssimas outras dependências que provêm do egoísmo. O que devemos fazer é sair do egoísmo.
–Falou já disso de modo indireto: as drogas são uma forma precisa de dependência. Muito em geral, como pode uma pessoa conseguir escapar da «prisão da própria dependência»?
–Frei Hans Stapel: Consegue-se no momento em que começa a fugir de si mesma. Deve aprender a pensar nos outros. Só nos outros pode encontrar a si mesma.
É a visão própria dos tempos atuais — eu, eu, eu; eu devo me realizar, etc. –, que é péssima. Eu me realizo quando amo os outros.
–De que forma os jovens que estão com vocês conseguem dar este primeiro passo para libertar-se de si mesmos?
–Frei Hans Stapel: Simplesmente vindo aqui e aprendendo este novo estilo de vida de quem está já aqui. Assim empreendem este novo estilo de vida de maneira automática. São acolhidos de modo harmônico: todos juntos começam a trabalhar bem cedo, todos juntos tentam viver a Palavra, e depois aprendem também o resto.
Ao princípio, quando têm dificuldades, fala-se disso, mas sempre de forma concreta, não se faz nunca teoria. Não temos lições ou coisas desse tipo, aqui há vida vivida, este é o segredo. Deve-se começar. A vida é fácil. Ali onde se complicam as coisas já não está o divino, senão só o ser humano que atua.
Deus disse as coisas de modo muito simples: o amor que fizestes ao menor e a vosso próximo, vós o fizestes a mim. E quando se começa a viver para o outro, experimenta-se alegria. Quem dá, é acolhido; quem se perde, encontra-se. Este é o segredo.
Quem vive aqui faz isso e sente feliz. E quando se é feliz, não se tem já necessidade de outra coisa. Fundamentalmente se cai nas drogas quando se está em busca da felicidade. Ama-se o sexo e todas as outras dependências para ser felizes, para conseguir conquistar algo. Mas quando se está verdadeiramente satisfeito, todo o resto é relativo.
–O primeiro passo, portanto, consiste em seguir o exemplo contagioso do outro?
–Frei Hans Stapel: Exatamente: o exemplo alheio, que contagia, e que, uma vez compartilhado, torna tudo mais simples.
–Durante sua permanência no Brasil, Bento XVI visitará também a «Fazenda da Esperança» dirigida pelo senhor. O que espera desta experiência e, em especial, da viagem do Papa ao Brasil?
–Frei Hans Stapel: A coisa bela é que isso deixa um sinal. Como Papa está dizendo isso: vou encontrar-me com os excluídos, que não são aceitos por muita gente, que simplesmente são marcados como bandidos ou marginais. O Papa vem encontrá-los, e dessa forma lhes dá um altíssimo valor. Isso é muito importante. E assim deixa um sinal.
A Igreja esteve desde sempre ao lado dos pobres, e esta é também sua vocação. Não há fé sem obras. Se eu creio em Deus e não atuo concretamente com gestos de amor, trata-se de pura teoria.
Isso não muda minha vida, e nem sequer a vida que me rodeia.
Ao vir aqui, o Papa dá este sinal. Diz aos jovens: não sois os pródigos! Tendes o amor do Pai Celestial! Ele vos acolhe, sois úteis para Deus. Tendes a possibilidade de evangelizar, tendes a possibilidade de ajudar os outros; tendes a possibilidade de começar uma nova vida, porque em Deus há sempre um novo início.
Em resumo, ele lhes diz tudo o que escreveu na encíclica «Deus Caritas Est»: «Deus é Amor». E isso é fantástico!