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A relíquia do cinto de Nossa Senhora

Depois de ser elevada aos céus de corpo e alma, reza uma piedosa e antiga tradição que a Virgem Maria teria deixado um presente ao apóstolo São Tomé.

Quem, saindo de Florença, percorre vin­te quilômetros em direção ao noroeste, encontra às margens do rio Bisenzio uma cidade industrial cu­jas fábricas lhe valeram a alcunha de “Manchester da Itá­lia”. Trata-se de Prato. Essa cida­de, apesar da feiúra de suas indústrias e da simplicidade de seu nome, além de ter sido um pólo ar­tístico mui­to afamado da his­tó­ria da Tos­ca­na, abriga, em seu cen­tro velho, uma das relíquias mais tocantes da Mãe de Deus.
É bem conhecida a história de São Tomé, um dos doze Apóstolos, que por estar ausente quando da aparição do Senhor após a Res­surreição, não quis nela acreditar, apesar do testemunho de seus com­panheiros. Só oito dias mais tarde, quando Jesus lhes apa­receu novamente, Tomé pôde constatar a verdade, colocando seus dedos na chaga do Salvador. Aí, sim, acreditou.
Passaram-se os anos e Tomé tor­nou-se um dos Apóstolos mais intrépidos, levando o Evangelho até os confins da Pérsia e da Índia. Segundo a bela tradição que chegou até nós [1], encontrava-se ele numa dessas longínquas regiões quando recebeu um recado de São Pedro, de que retornasse sem demora a Jerusalém, pois Maria, a Mãe do Senhor, iria deixá-los e desejava antes despedir-se de todos. Empreendeu Tomé a sua volta e mais uma vez chegou atrasado. A Mãe de Deus já havia su­bi­do aos céus [2].
São Tomé, mais uma vez levado pelo ceticismo, relutou em acreditar na Assunção da Santíssima Vir­gem e pediu a São Pedro que abris­se o sepulcro, para poder comprovar com os seus próprios olhos o ocorrido. Atendido o seu pedido, constatou que no túmulo vazio en­contravam-se apenas muitos lírios e rosas. Nesse mesmo momento, ao levantar suas vistas aos céus, Tomé viu Nossa Senhora na Glória, que, sorridente, desatou o cinto e lançou-o em suas mãos, co­mo símbolo de maternal bênção e proteção.
Este cinto é a relíquia que se ve­nera na Catedral de Prato. Chegou de Jerusalém no ano de 1141, trazido por Michele Dagomari, ha­bitante da cidade que estivera na Terra Santa. No começo, nin­guém deu muita importância àque­la re­lí­quia de autenticidade não comprovada. Mas em 1173 a Providência valeu-se de um fato extraor­di­nário para que todos a reconhe­ces­sem como verdadeira.
No dia de Santo Estêvão, o pa­droeiro da cidade, era costume co­locarem-se todas as relíquias em ci­ma do altar para com elas aben­çoar os doentes e endemoniados. Na ocasião, foi exposta também a caixa contendo o cinto de Nossa Senhora. Aproximaram então uma possessa que, no momento em que tocou a caixa começou a afirmar com insistência que esse cinto era da Santíssima Virgem, e no mesmo instante viu-se liberada de seu mal.
Iniciou-se então o culto público à sagrada relíquia. O próprio São Francisco de Assis, em 1212, este­ve com seus primeiros frades em Prato para venerá-la. Porém, se esse culto já conta com mais de oito séculos de história, a devoção ao santo cinto de Nossa Senhora é ainda muito mais antiga: foi instituída por Santo Agostinho, que de­terminou a constituição de uma Confraria do Santo Cinto, até hoje existente entre os agostinianos.
A relíquia é exposta à venera­ção pública cinco vezes ao ano: na Páscoa, nos dias 1.º de maio, 15 de agosto, 8 de dezembro e no Natal. Nessas ocasiões, ela é colocada no púlpito externo, à direita da Catedral, defronte à bonita pra­ça medieval da cidade.
Essa devoção faz com que Prato seja até hoje um dos lugares de peregrinação mariana mais frequentados da Itália.
São Tomé tor­nou-se um dos Apóstolos mais intrépidos, levando o Evangelho até os confins da Pérsia e da Índia.
Se você, leitor, algum dia passar por Prato, não deixe de entrar na Catedral — aliás, uma linda rea­lização do estilo gótico toscano — e procure do lado esquerdo a Capella del Sacro Cingolo, onde poderá venerar tão extraordinária relíquia. Peça à Santíssima Vir­gem as graças de que necessita e não deixe de admirar os maravi­lhosos afrescos onde estão retra­tados, além da entrega do cinto a São Tomé, outros episódios da vida de Nossa Senhora.
Maria, mãe das misericórdias ini­magináveis, quis mostrar a São Tomé e a todos nós que, mesmo sendo teimosos em acreditar, e ainda que estejamos imersos em nossas misérias, Ela sempre esta­rá dis­posta a fazer milagres portentosos para nos confirmar na Fé e atar-nos a Ela com seu Cinto, protegendo-nos com sua maternal ter­nura.

Referências
Texto publicado originalmente na Revista Arautos do Evangelho, Junho/2002, n. 6, pp. 15-17.
Notas
A história da ausência de São Tomé à Assunção de Maria, bem como do milagre que se seguiu à sua “segunda incredulidade”, é uma tradição cuja veracidade é contestada, por exemplo, por São Jerônimo (cf. Tiago de Varazze, Legenda áurea: vidas de santos, São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 663). Não é nem necessário lembrar, portanto, que o conteúdo dessa revelação não pertence ao depósito da fé. Os católicos, nessas circunstâncias, são chamados a prestar atenção aos sinais de confiabilidade dessa devoção, livres para aceitá-la ou não. O culto litúrgico de longa data a essa relíquia, no entanto, constitui sem sombra de dúvidas um fortíssimo argumento em sua defesa (Nota da Equipe CNP).
Por outro lado, como se sabe, a Assunção de Nossa Senhora aos céus é de fé católica, como confirmado pelo Venerável Papa Pio XII na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, de 1950 (Nota da Equipe CNP).

https://padrepauloricardo.org/blog/a-reliquia-do-cinto-de-nossa-senhora

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