Grandes Teólogos

Estou disponibilizando a possibilidade de conhecermos a vida de dois grandes teologos de nosso tempo. Em tempos de crise sempre precisamos de homens que nos ajudem a fazer o nosso caminho; pouco a pouco vamos disponibilizando textos destes autores que nos fazem mergulhar no mistério de Deus e de seu amor.

K. RAHNER E VON BALTHASAR DUAS GRANDES ESTRELAS DA TEOLOGIA, DUAS TEOLOGIAS COMPLEMENTARES

O sol e a lua. Dois pontos, duas presenças de luz. Rahner é o teólogo da intuição, caminha na direção que vai do dia para a noite, percebe a presença do ser à luz do sol, visualiza tudo, tudo enxerga, mas sabe que vem a noite do mistério, è o vislumbre do pôr do sol, onde tudo fica confinado na presença do Mistério Santo, em seu silencio eloqüente. Balthasar por sua vez, começa na noite, tudo parece obscuro, não claro, ele tenta juntar tudo, e deixar tudo falar, mas como é noite, as coisas ainda não têm seus contornos bem definidos, mas lentamente chega o nascer do sol, o início do dia preenche de cor todas as coisas, tudo passa a ter um sentido claro. Muitos tentaram vê-los em total desacordo, teologias contrapostas, talvez fosse superficial ver a coisas por este ângulo, pois numa viagem a um lugar belo, o caminho de ida e volta é o mesmo, mas a percepção da paisagem não é a mesma, quem vai vê uma paisagem, mas quando volta vê outra, assim são estas duas estrelas, que nos faz ver as coisas por ângulos diferentes, mas de certa forma complementar.

 O teólogo alemão Karl Ranher e o teólogo suíço Hans Urs von Balthasar podem ser considerados as duas figuras mais importantes do cenário teológico do século XX, ou que mais polarizaram pessoas em torno a si[1]. Se tivéssemos que julgar isso pelo número de dissertações dedicadas às ideias dos dois pensadores católicos, poderíamos concluir que os dias da influência de Rahner acabaram e que a tocha foi passada para Hans Urs von Balthasar. De fato, a preferência de orientação teológica geralmente é colocada em termos de escolher entre Rahner e Balthasar[2]. Por traz destas escolhas encontra-se uma grande distância das fontes e dos princípios de reflexão, o que ocasionou entre  ambos, sobretudo da parte de Balthasar, grandes polêmicas. Não è possível enquadrá-los simplesmente em categorias de sinistra ou de destra, de conservador ou progressista, uma tal tentativa conduz a uma compreensão superficial da verdadeira preocupação com a Igreja que era o coração dos dois pensadores. De fato, não se pode esconder que da parte de Balthasar tenha havido uma grande discórdia em relação ao procedimento de K. Rahner a ponto de surgir várias críticas, não obstante o temperamento de K. Rahner nunca o tenha levado a fazer o mesmo[3]. Mas se formos buscar o verdadeiro ponto e motivo de uma tal discórdia podemos dizer que é devido, talvez ao olhar de von Balthasar para o cenário negativo da verdadeira situação na qual se encontrava a Igreja[4]. E deste período que surge um certo tom polêmico e confrontativo entre ele e K. Ranher, sobretudo, com «os cristãos anônimos»[5] de Rahner, mas que na verdade, não se dirigia realmente a Rahner mas à uma grande e difusa atitude cultural do Ocidente cristão que cada vez mais tendia a esvaziar o conteúdo cristão e a centralidade de seu mistério. Com relação aos dois grandes teólogos, que até hoje permanecem como os dois maiores monumentos comtemporaneo da multiplicidade teológica que floreceu no século XX, podemos dizer que de ambas as partes, existe uma estima altamente recíproca.

  Com efeito, eles nunca estiveram juntos no período de formação, o conhecimento se deu no verão de 1939, quando ambos projetaram juntos um esboço de uma Dogmática, que Rahner publicou no primeiro volume das suas Schriften. Depois disto se polemizaram, de maneira diversa, literariamente um com o outro, mas em seguida reconheceram e reprovaram, em ambos, uma certa ausência do sentido de humor. Por ocasião dos sessentas anos de ambos, houve uma verdadeira reaproximação, onde tributaram mutuamente elogios plenos de admiração, muito além de puras e simples frases retóricas de cortesia[6]. Em anos anteriores Balthasar já confessava sua admiração pela profundidade especulativa de Rahner, como, por exemplo, na entrevista dada por Hans Urs von Balthasar, em1976, onde ele declarava de seu antigo irmão jesuíta que:

 ”Antes de tudo, eu considero K. Rahner, visto no complexo, a mais forte potência teológica do nosso tempo. E é evidente que ele, quanto à formação especulativa, è superior a mim […]. Mas as nossas posições de partida foram, na verdade, sempre diversas. Existe um livro de Simmel que se intutula Kant e Goethe. Rahner escolheu Kant, ou se preferir, Fichte, isto é a impostação transcendental. Da germanistica, eu escolhi Goethe […][7].

 Por ocasião da publicação do primeiro volume das Schriften de Rahner, Balthasar chega a dizer que:

 ”É certamente o único livro em razão do qual hoje neste setor permanece justificada uma certa esperança. Raramente a chama do Eros teológico sobe assim alta e rápida. Deve-se, quanto mais ele encontra o caminho em direção a si mesmo, tomá-lo tanto mais a sério e escutá-lo com maior respeito. Eu me alegro já esperando os próximos volumes. E espero somente que os romanos não o abatam completamente antes, com as suas loucas manias de caçar pedaços de pele”[8].

 Um dos momentos um pouco polêmico para os dois talvez foi o período que ambos estavam colaborando na Comissão Teológica Internacional[9], todavia, para compreendê-los, não obstante a mútua estima, é bom saber que Rahner e Balthasar, pertencem a dois mundos diversos, o primeiro é proveniente de Kant e da Escolástica, o outro provem de Goethe e dos Padres, e assim, no mais profundo, nunca se compreenderam realmente[10].


[1] B. Mondin, «I grandi teologi del secolo ventesimo», Teologi cattolici, Torino 1969, 267-297.

[2] J.A. Komonchak, « Karl Rahner, 25 anos depois »publicado no blog da revista Commonweal, 29-03-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto no Site da Unisinos; in ihuonline@unisinos.br.

[3] K. RAHNER, «Hans Urs von Balthasar», in HU 20 (1965) 879-885.

[4] G. Marchesi, La cristologia trinitaria, 133.

[5] H.U. von Balthasar, «Cordula, ovverosia il caso serio» in Gesù e il cristiano, Milano 1998, 175-243.

[6] K. RAHNER, «Hans Urs von Balthasar», 879-885.

[7] G. Marchesi, La cristologia trinitaria, 191.

[8] K. Lehman, W. Kasper, Hans Urs von Balthasar: Figura, 78.

[9] J. Ratzinger, Minha vida.

[10] K. Lehman, W. Kasper, Hans Urs von Balthasar: Figura, 76-78.

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