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“O Amor Incondicional de Deus”

“O Amor Incondicional de Deus” – 11º Domingo Tempo Comum
2º Sm 12,7-10.13; Gl 2,16.19-21 Lc 7,36-8,3
Queridos irmãos e irmãs internautas, o Evangelho de hoje nos faz aprofundar a ternura de Deus, sua compaixão pelas criaturas amadas, que somos nós! A linguagem da compaixão e da ternura divina é o traço verdadeiro do sonho de Deus para nós. Ser imagem de Deus, carregar em nós a semelhança divina, faz-nos compreender a essência de Deus manifestada na humanidade de Jesus. Isto serve de uma nova gramática para a humanidade, é um novo caminho de humanização que nos leva a refletir e a vencer as barreiras postas pelos preconceitos, pela discriminação e pela exclusão. Teria muita coisas a dizer sobre este evangelho, mas hoje prefiro partilhar com vocês a história que o Padre Jesuíta Hermann Rodríguez Osorio,[1] relata de um outro padre Jesuíta, muito famoso, o Padre Antony de Melo Ouvi de um amigo jesuíta esta história do Pe. Tony de Melo. Certa vez, para dar um curso de vários dias, ele se hospedou numa comunidade de religiosas da cidade. A superiora da comunidade que o acolhia fez então um pedido ao famoso conferencista para que desse uma palestra para as irmãs com o tema: O amor incondicional de Deus. Tony de Mello, com muita generosidade, apesar de saber que estaria muito cansado às noites depois do seu curso, aceitou o pedido de preparar a apresentação para as suas generosas anfitriãs.
Na noite agendada pela superiora, após o jantar, lá estava reunida toda a comunidade, para aproveitar esta extraordinária oportunidade, de ouvir uma palestra proferida por um dos mais famosos conferencistas do mundo. Diante do grupo de religiosas, Tony de Mello, com o rosto compungido, como alguém que se sente muito preocupado com o seu próprio futuro, iniciou dizendo: “Sinto ter que partilhar com vocês uma situação muito difícil pela qual estou passando. Eu sei que podem me ajudar e por isto recorro à generosidade de vocês, antes de dar início à palestra…” Todas as irmãs da comunidade, inclusive a superiora, se sentiram um pouco incomodadas ao vê-lo tão preocupado e à medida que o foram escutando, abriam os olhos como quem não crê no que está vendo…
Tony de Mello, seguiu: “Tenho que confessar-lhes que estou vivendo uma crise muito forte nesses últimos anos. Aparentemente, tudo vai bem na minha vida, mas na verdade, cheguei a uma situação incontornável. Já há alguns anos que vivo uma relação amorosa com a minha secretária e chegou enfim o momento de colocar-me frente à verdade. Não consigo viver sem ela, da mesma maneira que ela não pode também viver sem mim. Por isto, depois de pensar muito e ter dialogado com o meu provincial, decidi abandonar a vida religiosa e o sacerdócio….”. Nesse momento, as irmãs que já expressavam seu incômodo por ter hospedado em casa um sacerdote nesta situação tão comprometedora, não podiam crer no que ouviam. E menos ainda entendiam. Foi então que lhes fez uma proposta que lhes pareceu, muito indecorosa…
“Quero pedir-lhes um favor”, disse, conservando grande tranqüilidade. “Dentro de poucos dias, esta notícia estará divulgada em todos os lugares e por isto, tão logo eu saia da Companhia, pretendo formalizar esta relação com o sacramento do matrimônio. É que eu gostaria muito de voltar aqui para passarmos a nossa lua de mel… e já que vocês têm tido a bondade de hospedar-me e vejo que essa habitação, tão confortável é feita para receber seus hóspedes, gostaria de saber se poderiam nos receber durante alguns dias. Vocês sabem que a vida para mim será difícil num primeiro momento, já que sairei sem um real para as primeiras despesas”.
O rosto das irmãs refletia cada vez mais o assombro diante do que estavam ouvindo. Não era possível que Tony de Mello estivesse numa situação assim e o mais absurdo ainda era a sua desfaçatez em lhes pedir semelhante coisa. Indignada, a superiora levantou-se da cadeira e lhe disse com uma fingida amabilidade: “Querido Padre Mello: Sinto ter que dizer-lhe que esta casa é uma residência religiosa e que de nenhuma maneira podemos aceitar o seu pedido. E digo mais, se esta é a sua situação atual, não me parece conveniente que continue hospedado na nossa comunidade. Amanhã mesmo lhe buscaremos um outro lugar onde possa ficar o restante dos dias até finalizar o seu curso. Agradecemos muito a sua disponibilidade, mas creio, que não tem sentido seguir adiante com a conferência que eu lhe havia solicitado para esta comunidade. Já escutamos o suficiente”.
As outras irmãs, aprovando com a cabeça a severa e assertiva resposta da superiora, já estavam a ponto de se levantar, quando Tony de Mello deu uma enorme gargalhada e disse: “Peguei vocês. Sinto que caíram direitinho. Agora sim, vale a pena começar esta conferência sobre o amor incondicional de Deus…”.
O Jesuíta indiano lhes explicou então que a história da sua crise e da lua de mel entre elas era uma tremenda duma mentira. Também lhes contou que uma vez havia feito o mesmo com a sua mãe e que ela lhe havia respondido: “Sinto muito que vá abandonar o sacerdócio e a vida religiosa na Companhia de Jesus, mas quero que saiba que aqui você tem a sua casa e nós sempre estaremos com você para o que venha a precisar…” Esse amor de mãe, sim, é um amor ‘incondicional’, como o amor do Coração de Jesus.
Assim temos uma viva história que ilumina o Evangelho de hoje. De um lado, temos a dureza e arrogância do fariseu, que com olhar superficial, condena e assim exclui a mulher pecadora e consequentemente desacredita a atitude misericordiosa de Jesus. De outro lado temos a vitória de Jesus sobre toda prepotência humana, que nos revela uma nova e a mais verdadeira face amorosa de Deus, que a todos convida, a ninguém exclui, a cada um concede o perdão sem medida e um amor superior a tudo o que possamos ter feito. Um amor incondicional e por isso incompreensível para cada um de nós, mas muito concreto e o único capaz de nos salvar.
Talvez convenha nos questionar se o nosso coração é capaz de vencer os preconceitos, de criar em nossas comunidades um espaço de humanização e não de exclusão e discriminação, é este o sentido das Parábolas da Ovelha perdida. Quem são as ovelhas perdidas que temos à nossa volta hoje? Somos capazes de arriscar a vida por aqueles que consideramos perdidos? E quando encontrarmos aquele que estava perdido, teremos um coração, como o de Jesus, capaz de colocar a ovelha perdida sobre os ombros e irmos contentes para casa, juntar os nossos amigos e vizinhos e lhes dizer: “Alegrem-se comigo, porque já encontrei a ovelha que se havia perdido”?
Na Sexta-feira, nós comemoramos a festa do Sagrado Coração de Jesus. Falar do coração de Jesus é falar do amor incondicional de Deus. O coração de Jesus é o símbolo de um amor que se entrega todo e é capaz de viver como viveu Jesus de Nazaré. Por isto, chegou a dizer para desgosto dos que se imaginavam puros e limpos de todo pecado, como Simão da passagem de hoje: “Eu lhes digo que assim também há mais alegria no céu por um pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão”.
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[1] Sacerdote jesuíta, Decano acadêmico da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Javeriana – Bogotá

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