Vida para além da Morte

No dia de finados, reverenciamos e homenageamos nossos entes queridos falecidos. As orações piedosas, as celebrações, as flores, as visitas aos cemitérios, são manifestações de estima, carinho e comunhão com aqueles que nos precederam na casa do Pai. Um dos dogmas de fé da Igreja reza: “Creio na ressurreição dos mortos e na vida eterna. Amém”. Esta verdade de fé é inspirada nas palavras do divino Mestre: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,24. Na perspectiva da escatologia cristã, a morte não interrompe a vida, mas transforma e plenifica a vida. Esta nova vida transfigurada, realiza o que de bom a pessoa esperou e nem sempre conseguiu neste mundo.

O céu é, na verdade, a potencialização daquilo que já na terra experimentamos. Quem vive com Deus neste mundo viverá com Ele na eternidade. Quem vive com Cristo neste mundo, viverá com Ele na outra vida. Quem na terra faz a experiência do bem, da felicidade, da amizade, da paz e do amor, já está vivendo, em forma precária, mas real, a realidade do céu. Por isso, a hora de amar a Deus e os irmãos é agora! A hora de perdoar e reconciliar é agora! Pois, levaremos em nossa bagagem, o bem realizado ao longo da vida. Sobretudo, a caridade para com os mais pobres e necessitados. Assim nos dirá o Divino mestre: “Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois, tive com fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Estive nu e me vestistes” (Mt,25.). Este texto bíblico nos ensina que o julgamento final, será sobre o exercício da caridade e amor fraterno.

Por isso, precisamos ter um olhar solidário para com os pobres e sofredores deste mundo. Um dia eles nos receberão agradecidos na casa do Pai. Na teologia Católica, a salvação é dom e graça de Deus, mas é indispensável a cooperação humana pelas obras. No dia de finados, a Igreja oferece o santo sacrifício eucarístico de Cristo e eleva a Deus suas orações confiantes pelo sufrágio de todos os fiéis defuntos, a fim de que descansem na paz de Cristo. Neste ano o dia de finados vem carregado de um misto de tristeza, saudade e esperança por causa das vítimas do novo Coronavírus. Realmente, estamos atravessando um momento de grande tribulação, nunca vista na história, marcado pela imensa e indescritível dor pela perda de mais 158 mil vítimas da Covid-19 no Brasil. Estas mortes não são apenas números. São pessoas com um rosto e com uma história de vida! são nossos compatriotas! O sentimento de brasilidade nos impele a dizer que cada brasileiro ou brasileira que nos deixou, carregou, também, um pouco de cada um de nós. Em relação a essas perdas, o impacto foi ainda maior, quando nossos familiares, parentes e amigos foram tocados na carne com a navalha da morte, com a perda de algum de seus entes queridos. É nessa hora que sentimos a batida do coração descompassar. Além disso, esta profunda dor da separação foi potencializada pela falta do ritual dos velórios, tão importante e essencial, tanto no aspecto religioso como cultural, para reconstrução das identidades das pessoas que partiram e a elaboração do luto familiar. Isto porque, em cada velório, há uma narrativa dos parentes relatando o histórico da vida do falecido(a). Sem este ritual, muitos sentimentos não são extravasados. Ficam contidos ou reprimidos, agravando a saúde emocional dos familiares. Entretanto, de tudo se tira uma lição. A pandemia nos ensinou a reconhecer nossas fragilidades, mas também, nos fez descobrir que temos forças para enfrentá-la, lidar com ela e superá-la.

Peçamos a Deus que abra as portas do paraíso aos irmãos e irmãs vítimas da Covid-19 e dê o conforto espiritual aos seus familiares e parentes. Que as lágrimas derramadas pela perda destes entes queridos, não sejam de revolta, de protesto ou indignação contra Deus. Mas de gratidão pelo dom da vida destes irmãos, os quais encontraremos e os abraçaremos um dia na casa do Pai. Aos irmãos falecidos: dai-lhes, Senhor, o descanso eterno e a luz perpétua os iluminem”!

Pe. Deusdédit de Almeida é Cura da Catedral Basílica do Senhor bom Jesus de Cuiabá.

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