Religiosidade Cuiabana

O aniversário da nossa querida Cuiabá é uma oportunidade para um retorno na linha do tempo, a fim de conhecermos alguns dados históricos relacionados com a rica e respeitável religiosidade cuiabana. Trata-se da venerável imagem do Senhor Bom Jesus e da piedade popular que a cerca. Conforme afirma as crônicas de Barbosa de Sá: “Foi esta imagem fabricada de madeira por mãos de uma mulher, na Vila de Sorocaba. Trouxe-a consigo Pedro de Morais, natural da mesma Vila, nos primeiros anos que estes Sertões povoaram” (anais do Senado e da Câmara, crônicas de Barbosa de Sá). Chegou ao porto da Vila do Arraial em 1729.Portanto, são 292 anos de presença em Cuiabá. Chegando à Vila, a imagem foi levada à Matriz e colocada em um altar colateral ao lado do evangelho, tendo ao fundo um belo e ilustrativo painel colorido, calcado na história destas Minas.

No belo e imponente mosaico, aparece o Bandeirante, o Índio e o Garimpeiro, cada qual fazendo a oferenda dos seus tesouros ao Orago-mor do Arraial. Segundo Estevão de Mendonça, os cabelos anelados, que ainda adornam a fronte da imagem representam a dádiva de uma linda jovem cuiabana, que deles se desfez, em cumprimento de um voto. A tradição não menciona o nome da ofertante, nem a data do acontecimento.

Pois bem, esta veneranda Imagem permanece até hoje, acompanhando a vida e a história desta dinâmica cidade. Esta devoção é parte da identidade do nosso povo. Nas adversidades que atormentaram o povo cuiabano no passado, como por exemplo: a guerra do Paraguai, com a consequente epidemia da varíola(1867), da Cólera (1887), da gripe espanhola(1919), a Catedral e a veneranda imagem se transformaram em refúgios e confortos aos que os buscaram. Para quem conhece a história e a alma cuiabana, este “Orago-mor”, é uma inspiração de fé e de proximidade com Deus. Esta histórica imagem é a representação do Divino mestre, único mediador, o qual proclamou: “eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6).

Reza uma antiga tradição, que depois do morticínio de 30 de Maio de 1834 (a rusga), a imagem do Senhor Bom Jesus, saindo pelas ruas em procissão, tinha os olhos marejados de lágrimas. Interessante, os dois adjetivos que precedem o nome de Jesus, com os quais a fé do povo cuiabano tão bem O qualifica: “Senhor e Bom”. São duas expressões teológicas, muito significativas, que exaltam a identidade e missão de Jesus Cristo no mundo. “Senhor”: É o senhor perante a qual se curvou no passado o bandeirante indômito. Ele é o senhor do mundo, senhor da história, senhor da Igreja, Senhor de nossas famílias e da nossa vida pessoal. “Bom Jesus”, significa que Ele é este poço inesgotável de bondade, de onde jorra a agua da misericórdia para todos àqueles que o invoca, conforme reza o salmista: “O senhor está perto da pessoa que o invoca” (Sl 144).

Ele é o “Bom” Jesus cuja expressão de dor, de amor e resignação, infunde ânimo e coragem ao nosso povo. Ele quis estabelecer sua morada aqui e reinar para sempre sobre esta tricentenária cidade. O nosso Orago-mor, continua velando por seu povo, com o mesmo desvelo de outrora e com o mesmo amor eterno. Pois, Ele é o mesmo: “ontem, hoje e sempre” (Hb, 13,7)! Na vida agitadíssima, desta pujante e próspera cidade, a imagem do Senhor Bom Jesus, do alto do seu trono sagrado, continua abençoando nossa querida cidade verde. Com certeza, na companhia do Senhor Bom Jesus, atravessaremos mas este momento de tribulação causada pela Covid-19! Por isso, ao comemorarmos os 302 anos de Cuiabá, unamo-nos em oração e cantemos juntos o Te Deum de ação de graças ao SENHOR BOM JESUS e imploremos que nos socorra e nos livre desta pandemia que atormenta a humanidade e nossa Cidade! Que o Senhor Bom Jesus nos abençoe e nos salve!
Pe. Deusdédit M. de Almeida é Padre da Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

 

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