No dia 11 de Outubro de 1962 São João XXIII, com 80 anos, abriu os trabalhos do Concílio Vaticano II, o 21º Concílio Ecumênico da Igreja Católica. O Primeiro foi o de Niceia, no ano de 325. Participaram 2.500 Padres conciliares, delegações oficiais de 86 Países e organismos internacionais, observadores das Igrejas cristãs não unidas a Roma, peritos, teólogos e convidados de outras Igrejas cristãs. A expressiva participação dos Padres conciliares que assinaram os 16 documentos, conferiram autoridade moral, doutrinal e espiritual aos textos conciliares. O concílio encerrou no dia 8 de Dezembro de 1965. Foi muito marcante o discurso de João XXIII, na seção de abertura, dando ênfase para a dimensão pastoral, ecumênica e da unidade na Igreja. Assim afirmou São João XXIII: “Julgamos ser inspiração do altíssimo, qual flor de inesperada primavera convocar o Concílio ecumênico vaticano II”. Disse mais: “Nos dias de hoje, a Esposa de Cristo, prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade: julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez de sua doutrina que condenando erros”. João XXIII presidiu a primeira sessão do Concílio e, em seguida, faleceu. Tudo foi interrompido para a escolha do novo Pontífice, o que causou o prolongamento do Concílio.
O Papa Paulo VI, sucessor de João XXIII, na mesma direção do seu antecessor, defendeu um concílio renovador da Igreja, a qual deve ter braços abertos, acolhendo a todos com misericórdia e compaixão, a exemplo de Jesus. Paulo VI foi incisivo ao afirmar: “Os objetivos do concílio se resumem, em última análise, num só intento: tornar a Igreja do século XX mais apta para anunciar o evangelho à humanidade. Anunciar o evangelho é a razão de ser da Igreja: “Ide e pregai” (Mt.28). É bom recordar alguns antecedentes históricos: O último Concílio foi o Vaticano I(1879-80), convocado pelo Papa Pio IX, o qual foi suspenso por causa da invasão de Roma pelas tropas de Garibaldi. Foi um período de efervescência dos movimentos nacionalistas Italianos.
Portanto, não houve tempo e nem condições para discutir e aprofundar as questões importantes da Igreja. Só foi tratado a questão da função do Papa na Igreja, gerando o dogma da infalibilidade Papal. Isto é, o Papa não é um ser humano perfeito, mas é infalível quando se pronuncia a respeito de temas concernentes à fé. Esta limitação estagnou o processo de renovação da Igreja, mantendo-a na mesma visão e identificação com modelo do Concilio de Trento, realizado de 1545 a 1563. Em 1948, O Papa Pio XII teve o desejo de convocar um concílio, porém, não o fez por falta de consenso e pontos de vistas opostos dentro da Igreja. Entretanto, Pio XII criou, em 1952, um movimento renovador na Igreja chamado: “Movimento por mundo melhor”, de caráter fortemente missionário e implementado no Brasil pelo Pe. Riccardo Lombardi, Jesuíta e Italiano, o qual preparou a Igreja para a recepção da mensagem do Concílio Vaticano. É equivocado afirmar que o concilio vaticano, foi uma ruptura com a rica e preciosa tradição da Igreja. Na verdade, o concílio não foi causa, mas busca de respostas às rupturas, sobretudo a dissociação entre fé e cultura, que Paulo VI colocou em relevo como algo dramático (Evangelii Nutiandi, 13).
O Concílio ajudou a Igreja a sair do “gueto” cultural já insustentável. Foi uma renovação na continuidade da tradição. São João Paulo II assim afirmou: “O Concílio Vaticano II foi um dom do Espírito Santo à sua Igreja”. O Documento Aparecida fez uma referência ao Concílio: “Lamentamos, seja algumas tentativas de voltar a um certo tipo de eclesiologia e espiritualidade contrárias à renovação do Concílio Vaticano II, seja algumas leituras e aplicações reducionistas da renovação conciliar” (DA,100b). Na 59ª Assembleia geral da CNBB (6 /09/2022), os Bispos assinaram a seguinte declaração: “A Igreja no Brasil tem sido construtora e testemunha de um processo amadurecido e consistente de discernimento e assimilação do caminho de renovação, como fruto do concilio vaticano II. Reafirmamos nosso compromisso com a continuidade deste caminho e a convicção de que, entre nós, não há espaços para retrocessos”.
O sopro do espírito fez suscitar o Concílio, o qual renovou efetivamente a face da Igreja, sobretudo, na questão da renovação litúrgica, no diálogo ecumênico e religioso com as diferentes culturas. Numa sociedade pluralista, a Igreja deve buscar, através do diálogo, a unidade na diversidade sem perder sua identidade. O Concilio foi, portanto, uma instância autêntica da Igreja, assistida pelo espírito Santo, no âmbito da grande e rica Tradição da Igreja. Papa Bento XVI recomendou uma releitura dos documentos conciliares: “os quais devem ser conhecidos e assimilados, como textos qualificados e normativos do magistério” (Porta Fidei, 4 – Bento XVI, 2011).
Pe. Deusdédit é Cura da Catedral