Intolerância religiosa

Dia 21 de Janeiro comemoramos o dia nacional de combate à intolerância religiosa. Sabemos que a constituição brasileira, no artigo V, inciso VI, garante o livre exercício da fé ou crença religiosa. Este artigo foi regulamentado e aperfeiçoado com a lei 11.635 (2007). Cada cidadão tem direito de escolher e expressar sua fé com seus rituais e símbolos litúrgicos. Assim, a intolerância religiosa é tipificada como crime. Entretanto, é importante lembrar que, não raro, as intolerâncias são praticadas por pessoas fanáticas, fundamentalistas ou extremistas, os quais desonram ou envergonham a suas próprias confissões religiosas com atitudes discriminatórias e preconceituosas. Porquanto, as religiões são ferramentas ou instrumentos de paz na sociedade e no mundo. Proclamou Luther King(1929-68), líder negro que lutou a favor dos direitos civis dos negros nos EUA:” aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”.

Em um de seus inflamados discursos ele disse: “o homem não se define pela sua cor, sua classe social, seu gênero, sua etnia ou credo, mas pela força do seu caráter”. Ora, a paz é um valor universal que deve ser arduamente buscada e cultivada, sobretudo entre as Igrejas. Não há nenhum ser humano que não se sente bem quando ao seu redor reina a paz. Com unanimidade admirável, todas as religiões ensinam uma regra de ouro: Ama o teu próximo como a ti mesmo. Essa é a pedra angular da paz. A pessoa que ama a Deus, deve também amar o seu irmão (1Jo 4,20). O amor ao próximo é patrimônio doutrinário de todas as crenças religiosas. Esta urgente tarefa da construção da cultura da paz, é um imperativo para todos os líderes religiosos e seus seguidores. Expressou o Papa Francisco na encíclica Fratelli Tutti (Todos irmãos): “As várias religiões, ao partir do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como criatura chamada a ser filho ou filha de Deus, oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e para a defesa da justiça na sociedade” (FT, n.271).

Por mais que o coração humano deseje a paz, parece que ela é um artigo raro da história humana. Especialmente na nossa época. O século XX foi chamado de “o século mais sangrento da história da humanidade”, com poucos intervalos de paz e tréguas. Esse século conheceu duas grandes guerras mundiais, a monstruosidade do holocausto e massacres tribais cruéis e muitos atentados terroristas. Portanto, todas as religiões do mundo devem lutar, incansavelmente, pela paz. Mas, infelizmente, em alguns lugares há conflitos religiosos. Nesta linha, afirmou o teólogo Hans Kung: “Só haverá paz na terra, quando existir a paz entre as religiões. Só haverá paz entre as religiões, se existir diálogo entre as religiões”. O objetivo do diálogo é estabelecer amizade, paz, harmonia, e partilhar valores humanos, morais e espirituais, em espírito de fé e de verdade. Só através do Diálogo, fecundo e frutuoso, podemos derrubar os muros das divisões, dos preconceitos, da intolerância e construir pontes de amizade, harmonia, fraternidade e paz. Antes de tecer críticas sobre qualquer confissão religiosa ou culto, vamos conhece-la. Para os que creem, a paz é uma dádiva divina a ser recebida de Deus quando, de joelhos, oramos.

Mas é, também, uma conquista contínua a ser alcançada pelo diálogo. Por tanto, “cada um de nós é chamado a ser um artífice da paz, unindo e não dividindo, extinguindo o ódio em vez de conservá-lo, abrindo caminhos de diálogo em vez de erguer novos muros” (Fratelli Tutti, 286). Finalizo dizendo que o edifício da paz, tão precioso e desejado, ao mesmo tempo tão precário nos dias de hoje, deve ser edificado em bases sólidas da ética do respeito, da tolerância, do não-preconceito, especialmente entre os líderes religiosos e as confissões religiosas.
Pe. Deusdédit M. de Almeida é Cura da Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

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