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Ser secretário-geral da CNBB

O desafio de ser secretário-geral da CNBB (I).Entrevista com Dom Dimas Lara Barbosa, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil .BRASÍLIA, domingo, 11 de novembro de 2007 (ZENIT.org).- Eleita em maio deste ano, a presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) já iniciou seu mandato “em grande estilo”, disse seu secretário-geral, Dom Dimas Lara Barbosa, ao recordar da primeira atividade da nova presidência: receber o Papa Bento XVI no aeroporto de Guarulhos para sua visita ao Brasil.

Em entrevista à Agência Zenit, Dom Dimas fala sobre esses primeiros meses como secretário-geral da CNBB e os desafios da Conferência e da Igreja no Brasil, principalmente com relação ao Documento de Aparecida e à próxima Campanha da Fraternidade, que abordará o tema da Vida.

–O senhor assumiu a secretaria-geral da CNBB em maio deste ano em um momento de grandes desafios para a Igreja no Brasil: a visita do Papa e a realização da Conferência de Aparecida. Após alguns meses, qual o seu olhar sobre aqueles momentos tão intensos?

–Dom Dimas: De fato foi algo bastante extraordinário. O primeiro ato da nova presidência da CNBB foi receber o Santo Padre no aeroporto de Guarulhos, praticamente no dia seguinte ao início do nosso mandato. Isso nos levou a brincar “estamos começando em grande estilo!” (risos). Foi muito bom porque o Santo Padre é muito acolhedor! Aliás, mais recentemente, há vinte dias, nós tivemos a primeira visita oficial da presidência da CNBB a Roma, ao Santo Padre e aos diversos dicastérios da Cúria Romana e o acolhimento lá, em todas as instâncias em que estivemos, foi muito bonito e muito grande. Isso tudo reflete que a visita do Papa ao Brasil ainda está repercutindo em Roma. Aliás, a primeira coisa que ele fez na nossa conversa foi lembrar os principais momentos da visita dele. Percebemos que ele tem um carinho muito grande por todos e traz muitos detalhes na sua memória. Ele mencionou explicitamente o encontro com os jovens, a canonização de Frei Galvão, o encontro com os bispos na Catedral da Sé, a visita a Fazenda da Esperança, a abertura da Conferência de Aparecida e o carinho do povo no Mosteiro São Bento. Ele se lembrava com muito carinho da visita. Estava empolgado e nos disse que encontrou no Brasil uma Igreja Viva. Acho que a melhor avaliação dessa primeira etapa da presidência da CNBB, o próprio Papa nos passou. Sem dúvida, essa visita ainda repercute muito aqui na CNBB. Estamos agora preparando as novas diretrizes da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, que serão aprovadas na próxima Assembléia Geral, em Itaici, e estamos nos esforçando justamente para fazer uma recepção criativa do Documento de Aparecida. Fizemos questão de envolver os regionais o máximo possível nessa preparação para a Assembléia Geral com um questionário que foi encaminhado aos diretores regionais para que procurassem envolver os próprios coordenadores arquidiocesanos de pastorais e bispos.

–Quais pontos podem ser destacados da visita da presidência da CNBB ao Papa agora em outubro?

–Dom Dimas: O objetivo dessas visitas que a presidência da CNBB faz todos os anos a Roma é, sobretudo, levar os resultados da Assembléia Geral de Itaici. Então, todos os anos a presidência leva esses resultados, que estão em um livro com as atas, os documentos aprovados e os encaminhamentos feitos. Esse é o principal objetivo. Depois, em cada dicastério se tratam temas específicos. Por exemplo, na Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos nós tratamos da revisão da tradução do Missal Romano, que já está sendo realizada há alguns anos. Na Congregação para Educação Católica nós abordamos o tema da identidade das Universidades católicas, que é um tema que está preocupando as próprias universidades, principalmente depois de Aparecida, porque o Documento dá uma ênfase muito grande à educação católica e aos centros culturais católicos como lugares de formação do discípulo missionário. Tudo isso a título de balanço. Não houve em nenhum momento nenhuma crítica, sempre foi uma partilha, troca de experiências, de sugestões e o que tem sido feito em outros países também foi partilhado conosco.

–Depois da visita do Papa, o senhor mudou-se para Brasília e iniciou os trabalhos em seu novo cargo. A secretaria-geral da CNBB é um importante ambiente de diálogo com o setor político da sociedade. Como está esse diálogo?

–Dom Dimas: Estamos tentando responder a todos aqueles que nos procuram e estabelecer um diálogo, sobretudo com o Executivo. Tivemos a oportunidade de encontrar com diversos ministros para tratar de temas de interesse comum, como a reforma da previdência, a questão da filantropia, questões de saúde, mostrando para cada ministro pontos de apoio e de convergência. Tem sido um diálogo muito cordial e franco. Estabelecemos parcerias com alguns ministérios. Por exemplo, na produção de 10 milhões de cartilhas sobre os “10 Mandamentos do Trânsito Seguro”, que foi uma iniciativa da Frente Parlamentar pela Defesa do Trânsito Seguro. Eles nos procuraram porque o Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes lançou um documento chamado Pastoral da Estrada, em que trazia esses 10 Mandamentos do Motorista. Então, decidimos em comum acordo, junto com a Frente Parlamentar, o Ministério das Cidades, o Denatran, os Correios e a CNBB, fazermos essas cartilhas que foram enviadas para as paróquias de todo o Brasil.

–Quais as principais dificuldades do trabalho como secretário-geral?

–Dom Dimas: A própria limitação pessoal e física diante de tantas exigências. Porque a CNBB é como uma caixa de ressonância não só da Igreja, mas da própria conjuntura brasileira. Aqui, chegam diversos assuntos para o secretário-geral, como o relacionamento com as instâncias maiores da própria Igreja Católica, o relacionamento com os três poderes em nível nacional – Executivo, Legislativo e Judiciário –, questões sobre a situação social, política, econômica, os diversos movimentos sociais, oriundos ou não da Igreja Católica, o relacionamento com a imprensa, tudo isso. O secretário acaba se tornando o porta-voz da Conferência. Temos de estar presentes junto aos regionais em eventos importantes. Temos a coordenação do grupo de assessores que, por um lado, é uma vantagem porque eles são os apoios sem os quais não conseguiríamos tocar esse barco, mas ao mesmo tempo exige estar preparado para orientar, pelo menos em situações emergenciais, setores que vão da juventude aos idosos, passando pela Pastoral da Criança, moradores de rua, vocações, etc. Você tem de navegar um pouco em todas as dimensões pastorais. Isso faz com que, naturalmente, a gente sinta o peso da responsabilidade, da expectativa que o próprio povo tem. Sinto que as pessoas não têm noção do trabalho da CNBB, tanto que nos enviam correspondências com diferentes pedidos, desde pedido de interferência em uma prefeitura até recados para o governo federal. Aqui vale aquela história, “não dá certo, vai reclamar com o bispo” (risos). E o povo reclama mesmo.

–A respeito do tema da defesa da vida e da luta contra o aborto, quais as principais dificuldades? O que muda com a Campanha da Fraternidade de 2008?

–Dom Dimas: A Campanha da Fraternidade sempre é uma oportunidade muito forte para injetar novo ânimo em temas de relevância social. Basta lembrar que o tema da defesa da vida está presente em todas as campanhas da fraternidade, sob aspectos diversos, inclusive várias campanhas anteriores levam o nome Vida. Por exemplo, “Vida, dignidade e esperança”, sobre os idosos; “Vida sim, drogas não”, até algumas músicas que passaram para o nosso repertório litúrgico, como “Eu vim para que todos tenham vida plenamente”. Naturalmente, ano que vem o foco vai voltar para duas áreas mais violentadas da vida, que é a situação da vida no início e no seu final. Ou seja, a questão do nascituro e de sua mãe; e a questão do idoso doente, principalmente em estado terminal. Aí entra toda a problemática da eutanásia, do aborto, de manipulação do embrião e questões de bioética que são mais amplas. Se olharmos bem, vivemos no mundo da biotecnologia, então temos a problemática da manipulação genética, da clonagem. Em outro nível, a questão dos transgênicos, da biodiversidade, da própria ecologia e sobrevivência do planeta.

A questão da vida é um tema muito amplo. Com isso, existem muitos reducionismos com relação ao conceito de pessoa. Se por um lado cresce a consciência ecológica, existem certos extremos que colocam os seres humanos em pé de igualdade com qualquer outro ser vivo. E a mensagem da Bíblia é completamente outra. O ser humano é imagem e semelhança de Deus, é co-criador de Deus na própria criação e tem uma responsabilidade única entre todos os seres vivos: tornar esse mundo mais humano e de acordo com a vontade do Pai. Então o anúncio de uma antropologia integral é fundamental nessa temática da defesa da vida e, inclusive, o grande problema nosso é um fenômeno cultural que vai introjetando nas pessoas uma inversão de valores. O que antes era um grave defeito se torna virtude. Exemplo: não matar sempre foi um mandamento respeitado na consciência de todos, mas de repente coitadinho daquele meu avô que está doente, então vamos abreviar o seu sofrimento. Então, matar se torna sinônimo de amor, de caridade. Coitadinha daquela criança que vai nascer numa família pobre, sem educação, então vamos impedir que ela nasça. Então, existe uma inversão de valores que surgiu e está se arraigando.

As pessoas chegam a tratar o embrião como se fosse um amontoado de células. Eu vi um comentário de coluna dos leitores num jornal que dizia: “não acredito que um embrião seja um ser vivo, embora tenha um código genético, é apenas um amontoado de células”. Quer dizer, aquilo que a própria ciência já mostrou: que a vida começa na concepção, de repente por outros fatores subjetivos ditados pelo relativismo ético são conquistas e verdades negadas e aí temos uma dificuldade grande. Se a indignação ética não fala mais alto, o que vem no lugar é o relativismo ético e a apatia diante das vítimas. A Dra Zilda Arms costuma dizer uma coisa que é muito séria: “se de repente um avião com 300 crianças caísse e as 300 crianças morressem de uma vez, isso seria motivo de uma dor e um escândalo mundial. Mas, muito mais de 300 crianças morrem todos os dias por fome, por violência e outras coisas e isso já não nos escandaliza, não nos provoca indignação ética”. Então é aqui que está o ponto mais desafiador dessa campanha.

–Muitas vezes os próprios católicos não possuem essa consciência sobre o valor da vida por desconhecimento. Existem propostas ou ações no sentido de levar essa formação aos católicos?

–Dom Dimas: O texto base da Campanha da Fraternidade traz um monte de sugestões concretas que cada diocese é chamada a executar, desde a constituição e manutenção das comissões diocesanas de defesa da vida que podem constituir um grupo organizado e planejar para cada região concreta ações específicas, até apoio em questões de políticas públicas de saúde. Existem certas medidas que são baratas e que poderiam ter um grande alcance. Nós encaminhamos, ano passado, à então governadora do Rio de Janeiro, um projeto de lei simples que era de tornar obrigatório em todas as unidades de saúde do estado a disponibilidade de ácido fólico em quantidade suficiente para as gestantes, que é algo barato e que previne a anecefalia e outros problemas durante a gestação. Enquanto a sociedade se mobiliza participando de conselhos de direito e reivindicando políticas públicas nós vamos dando passos nessa direção. Por exemplo, a campanha da fraternidade sobre o idoso teve uma conseqüência interessante que foi o Estatuto do Idoso, que ainda não é perfeito, mas que já foi um passo significativo. E depois houve a constituição do Conselho Nacional do Idoso e de conselhos estaduais. Quem sabe se não conseguimos aprovar o Estatuto do Nascituro. Já existem pelo menos dois projetos na Câmara neste sentido

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