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“No peito eu levo uma cruz, no meu coração o que disse Jesus”

Pregação  proferida no dia 09/07/ 2012  no Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho, por ocasião da despedida da Cruz Peregrina.
Reflexão sobre a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“No peito eu levo uma cruz, no meu coração o que disse Jesus”
Assim canta o refrão da canção de meu irmão de Congregação Pe. José Fernandes de Oliveira, assim canta o Brasil inteiro esperando a JMJ no Rio de Janeiro, assim canta nossa Querida Cuiabá há muito tempo se preparando para esta visita. Nosso querido Beato Papa João Paulo II, de veneranda memória entregou essa cruz á comunidade de Santo Egídio e por conseguinte aos jovens dizendo: “Levai a cruz, símbolo do amor e da Redenção de Cristo pelo mundo.” Eis que seu pedido está sendo cumprido e por isso sábado recebemos também tão belo presente.

A Cruz é o sinal que identifica os cristãos.  A entrega livre e voluntária que Jesus fez de si mesmo à Vontade salvífica do Pai, abraçando e carregando a Cruz, deixando-se crucificar, sofrendo todos os horrores de uma crucificação e morrendo na Cruz, resultou na salvação da humanidade, bem como em todas as graças e bênçãos já alcançadas, e em todas as que ainda irão acontecer na humanidade. A Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus são a fonte de todas as graças e bênçãos que já aconteceram desde a criação do mundo, e que continuarão a acontecer até o fim dos tempos.
Antes da Morte de Jesus, a Cruz era símbolo de condenação, de sofrimento e de morte. Agora, após a crucificação e Morte de Jesus, a Cruz é símbolo de salvação, de vida, de bênção, de libertação, de cura e de santificação. Antes era maldição. Agora é salvação!
É preciso compreender de imediato que o poder salvífico da Cruz não está simplesmente no fato de ela ser uma Cruz. Sua força de vida e salvação, de bênção e santidade, não está nas duas traves encaixadas em forma de Cruz. O que lhe dá o novo significado é o fato de Jesus, Filho de Deus, tê-la abraçado livremente, carregado com paciência e de ter sacrificado Sua Vida, entregando-Se à morte de Cruz. Quem dá o novo sentido à Cruz é Jesus crucificado e ressuscitado. Desvinculada da Pessoa de Jesus, a Cruz não tem o menor significado, e nenhum poder.
A presença deste sinal em inúmeros lugares: no cimo das torres das igrejas, dentro das catedrais, santuários, igrejas, capelas, oratórios, tumbas de cemitério, bem como em nossas casas, dentro dos carros, pendurada em nosso pescoço etc., bem demonstra a "força do simbolismo" da Cruz redentora de Jesus. Ao olharmos para as cruzes, recordamos Jesus crucificado, o qual é a razão de nossa salvação, libertação, bênção e santificação. Quer com o Corpo de Jesus pendurado, quer sem Ele, a Cruz fala muito alto e forte. Ela proclama que possuímos um Salvador. Ela revela que fomos salvos graças à crucificação de Jesus. Ela conclama, grita e insiste para que nós nos apropriemos da salvação realizada por Jesus na Cruz. Ela convida a que aceitemos Jesus Cristo, creiamos n’Ele, vivamos em Sua Igreja, busquemos a salvação em Seus Sacramentos e em todos os outros canais de graças e bênçãos existentes na Igreja.
Trazer o crucifixo ao pescoço deve significar uma profissão de fé em Jesus vivo, que pelos méritos de Sua Morte na Cruz e por Seu Amor pessoal para conosco, quer salvar-nos, quer nos libertar dos males e tentações, enfim deseja nos abençoar.
A Cruz precisa ser compreendida como um "canal" condutor de graça. O canal é apenas um instrumento para conduzir aquilo que se deseja: a água, por exemplo.
A Cruz redentora de Jesus é o "grande canal" que não apenas nos lembra a salvação adquirida pela Morte de Jesus, mas é, na sua essência, o grande canal das graças e bênçãos que nos foram conquistadas por Jesus, com Sua Morte de Cruz. Graças e bênçãos que, aliás, recebemos pelos Sacramentos, por todas as formas de ações litúrgicas, pela Palavra de Deus, bem como por todas as formas de culto divino, quer eclesial e público, quer privado.
É possível falar ainda hoje de cruz num mundo de crucificados? A  tarefa é árdua e exige paciência e reto conhecimento. No entanto, essa realidade torna-se mais fácil quando se entende que pregar a cruz é falar de seguimento a Jesus, seguimento verdadeiro e comprometedor em transformar esse mundo num lugar mais humano e fraterno. Isso é possível, uma vez que não se justifica os crucificados de hoje com a cruz de ontem, mas se associa a eles a cruz redentora do Senhor e vice-versa. A cruz do Senhor não é sinal do mal ou sadismo que veio do alto, mas expressão do amor do Pai que ama a todos indistintamente.
Também é preciso dizer que o nosso mundo não está preparado para lidar com o sofrimento, não sabemos mais lidar com perdas, com fraquezas e com dificuldades, nos esquecemos de que Deus não criou outros deuses. Somos seres limitados e ,portanto, sujeitos a acidentes, doenças. “Hoje em dia muitas pessoas se tornam neuróticas porque não conseguem se aceitar em sua condição debilitada. A cruz dá ao ser humano a coragem de aceitar-se assim como se experimenta, de aceitar-se com tudo contra o qual vive protestando com o que não consegue conviver e lidar. Preferiam não precisar perceber, porque despedaça a imagem que fez de si mesmo. A cruz liberta o ser humano para ser ele mesmo. E a cruz descobre ao ser humano sua verdade, da qual ele gosta de fugir”. (GRÜN, Anselm – A cruz – A imagem do ser humano redimido – Paulus – 2ªed.- 2010 – p.68).  “A cruz nos questiona. Ela nos obriga a enfrentar a pergunta: quem somos? Mas Deus nos dá uma resposta a nossa pergunta, pois, o próprio Filho Jesus morre na cruz de nossa existência. E somente porque Deus nos dá a resposta à nossa pergunta na morte de seu Filho, ele nos inspira a coragem “de contemplar nossa imagem, que estamos escondendo de nós, pendurando-a em nossas câmaras, colocando-a em nossos caminhos e plantando-a em nossos túmulos”(ibidem – p.70).
A cruz de Cristo e a cruz do cristão formam uma unidade. Paulo diz isto em 2 Cor.4:10 levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Nestes sofrimentos do caminho da cruz, o mundo presente perece e nasce o novo mundo de Deus.  Mas certamente a cruz, por mais paradoxal que possa parecer, continuará carregando em seu significado o mistério e o segredo da vida. “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a achará.” (Mc. 8:34,35).
Termino essa pequena reflexão com uma frase oração de meu querido irmão no sacerdócio Pe. Reginaldo Oliveira colocada na Rede social Facebook no último dia 05 deste mês: “Quando vires uma pobre cruz de madeira, só, desprezível e sem valor…. e sem crucificado, não esqueças que essa cruz  é a tua cruz: a de cada dia, a escondida, sem brilho e sem consolação…., que está esperando o crucificado que lhe falta e esse crucificado (a) tens que ser tu”.
Caríssimos jovens levem sim no peito uma cruz e no coração, na vida, nas atitudes e no vosso testemunho o que fez e ensinou Jesus. E vos exorto ainda com as Palavras do Papa Bento XVI: “ Toquem na cruz para que a cruz toque na vida de vocês.”
Pe. Marcos Cesar de Oliveira

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