Página Inicial / Notícias / “Responsabilidade da Igreja e dos Cristãos”

“Responsabilidade da Igreja e dos Cristãos”

    

“Responsabilidade da Igreja e dos Cristãos”

Carlos Signorelli

Presidente do CNLB

Como já se tornou lugar-comum, nesta era de profundo questionamento sobre a racionalidade construída pela modernidade não há e nem haverá espaço para todo e qualquer pensamento ou instituição que não consiga ultrapassar esse momento de ultrapassamento histórico. Não há mais ninguém que não veja, no hoje, uma crise no paradigma civilizacional construído pela burguesia em sua luta contra a aristocracia feudal.



          Trata-se de um ultrapassamento, não a eliminação. Trata-se da necessária construção do novo sem que todo o velo seja disponibilizado pra o lixo da história. Não! O ultrapassamento dialético das instituições não as elimina, mas exige delas um repensar, um reconstruir-se em bases novas. Aquelas que não conseguirem esse feito, ou que se considerem inamovíveis, com certeza ficarão como nomes de uma história passada.

Assim, o Cristianismo, assim a Igreja.

Eliminando, momentaneamente, a nossa visão de fé, temos que dizer que ambos são construções históricas, ou seja, estruturas teóricas e práticas moldadas pelas pessoas em determinado momento histórico, para fazer frente àquele mesmo momento.

O Cristianismo é uma estrutura de pensamento, um conjunto de normas e vivências que estruturam no hoje, seja em 2009 seja em 313 DC, o agir de seus fiéis a partir da prática de uma Pessoa: Jesus de Nazaré. Mas ele não é uma estrutura monolítica, quer seja visto no decorrer da sua história de 2 milênios, quer seja no hoje, onde tantas vozes o constroem de formas por vezes muito diferentes e até conflitantes.

A Igreja Católica também é uma construção histórica, não no sentido de afirmar que a sua constituição se deve apenas ao pensamento dos homens e mulheres que por ela passaram. Não! A nossa fé nos diz muito mais. Mas nunca poderemos fugir do fato, inquestionável, de que, sempre, a cultura e o Homem são elementos estruturantes das instituições. Se a nossa fé nos diz que a essência do Cristianismo é a prática de Jesus de Nazaré e que a Igreja surge da ação do Espírito sobre os apóstolos, não poderá isto servir de reflexão para aqueles e aquelas que não possuem esta mesma fé, e que são mais de 75% da humanidade.

Neste momento histórico de Crise do Paradigma Civilizatório, nada mais está escondido ou deixou de ser conhecido. As propostas de pensamentos, novos e velhos, os questionamentos, novos e velhos, sobre todas as instituições, novas e velhas, aí estão. E o Cristianismo e a Igreja devem entrar no diálogo que levará à construção do novo paradigma. E nesse debate não poderemos levar conteúdos teóricos que partam dos dogmas de nossa fé, já que são desconhecidos ou não reconhecidos pelo Outro. E se quisermos que os nossos valores permaneçam e sejam elementos constituintes do novo paradigma civilizacional, teremos que mostrar a sua validade e nem sequer pensar em forçar ou partir de algum tipo de autoridade para fazê-lo.

O Cristianismo tem uma base hoje reconhecida por todos e todas como de inegável valor para a estrutura civilizacional: a Palavra e a Prática de Jesus. A imensa maioria não o entende como a Palavra Encarnada, como nossa fé nos diz, mas o aceitam com portador de um ensinamento ímpar para o homem, de ontem e de hoje. A             Igreja tem uma história nem sempre como um sinal dessa mesma Palavra, principalmente quando ousou ser poder em lugar de ser serviço. Mas ainda hoje tem uma imensa credibilidade e sua palavra, quando embasada na Palavra Encarnada e não em princípios de autoridade construídos historicamente.

O Novo virá, com ou sem os valores do Cristianismo, com ou sem a presença testemunhal da Igreja. Mas, e nossa fé nos diz isso, não será um Novo vivenciável. Ao contrário, cremos nós, os valores da Palavra Encarnada deverão se constituir em embasamento do Novo, para que ele seja, de fato, civilizacional e não barbárie. Mas somos nós, cristãos e Igreja, que temos que ser os canais dessa implantação. Caso contrário, lá estaremos nós, cristãos e Igreja, nos guetos da história.

Carlos Signorelli

Presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil

Fonte: Boletim Informativo CNLB.

 

 

Você pode Gostar de:

Padres visitam Mato Grosso em busca de pessoas que conheçam Dom Campelo

Uma missão eclesiástica ganhou destaque nos últimos dias na Arquidiocese de Cuiabá, com a presença …