Após analisar profundamente fenômenos como a desagregação da família, o processo do inverno demográfico, a dramática diminuição da fertilidade, a tendência a reduzir cada vez mais o núcleo familiar em formas culturais e subjetivas, o aumento dos divórcios e separações, Donati, professor de Sociologia da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Bolonha, assinalou as duas linhas interpretativas sobre as mudanças da família.
Segundo a primeira linha interpretativa, as mudanças da família se produzirão como conseqüência da dissolução da chamada família tradicional (casal casado com filhos próprios), que acabará sendo completamente marginal.
Preconiza-se que a família nunca poderá assumir formas que de alguma maneira se assemelhem ao passado. E isso porque — assim se supõe –, o matrimônio se converte em um vínculo demasiado constritivo e oneroso, a sexualidade se separa da fecundidade, o ter filhos se converte em uma opção cada vez mais onerosa e arriscada.
A outra tese sustenta, ao contrário, que a pluralização de formas reflete tendências negativas, de tipo autodestrutiva, regressiva e de degradação social, que geram formas de vida incapazes de representar soluções satisfatórias e estáveis nas relações entre sexos e entre gerações.
Segundo esta posição, a sociedade deverá reduzir a variabilidade dos possíveis comportamentos familiares, e reavaliar certas características perenes — de compromisso contratual e de estabilidade entre sexos e gerações –, típicas da família tradicional.
Segundo Donati, o limite comum de ambas teses está em fazer referência a «um modelo de ‘família tradicional’ que se usa como um cômodo estereótipo polêmico, em sentido negativo (a combater) ou em sentido positivo (a defender)».
«Esquece-se que a expressão ‘família tradicional’ — sublinhou o professor Donati, ex-presidente da Associação Italiana de Sociologia — indica uma ‘sociedade natural’ fundada na união conjugal entre um homem e uma mulher que torna estáveis, previsíveis e socialmente tutelados os intercâmbios entre eles e a assunção de tarefas comuns, como a procriação e a educação dos filhos.»
«O tema da pluralidade da família deve ser enfrentado com uma visão mais ampla que as meras descrições positivistas e as puras extrapolações ou projeções históricas», sublinhou o sociólogo, membro da Academia Pontifícia das Ciências Sociais.
«É preciso evitar os esquematismos — concluiu Donati, autor de mais de 500 publicações em vários idiomas –, segundo os quais o progresso coincidirá com uma sempre ulterior individualização das pessoas, enquanto o reforço dos laços sociais representaria uma regressão.»